segunda-feira, 30 de março de 2009

Conferência de Imprensa

No próximo dia 1 de Abril, às 18:00, terá lugar na Fnac de Santa Catarina a conferência de imprensa do projecto "Regime de 1/2 Pensão", que contará com a presença dos artistas João Gesta e Isabel Carvalho.

Haverá ainda um pequeno concerto a solo de Nuno Sousa, que interpretará temas de "João Peludo" essencialmente escritos e compostos em cafés.

Aparece!

Parceiros e Apoios

Parceiros:
Café Ceuta
Café Guarany
Leitaria da Quinta do Paço
Maus Hábitos
Plano B

Apoios:
Câmara Municipal do Porto
Fnac Santa Catarina
Fundação Ciência e Desenvolvimento
Fundação da Juventude / Palácio das Artes
Fundação de Serralves
Metro do Porto
Rocha Artes Gráficas
Teatro do Campo Alegre

Distribuição dos Artistas pelos Cafés

Isabel Carvalho – Café Guarany
João Gesta – Quinta da Leitaria do Paço
Jorge Andrade – Plano B
Pedro Eiras – Café Ceuta
Valter Hugo Mãe – Maus Hábitos

Os Artistas Residentes

Isabel Carvalho

1- Isabel Carvalho é artista plástica, directora do curso de banda desenhada e ilustração na ESAP – Guimarães e com Pedro Nora partilha a responsablidade pela direcção da editora Braço de Ferro.
2- Natural do Porto, onde sempre viveu desde que nasceu em 1976, o seu trabalho artístco e editorial contextualiza-se em cenários e tendências que ultrapassam as fronteiras que delimitam o país.
3- Isabel Carvalho é licenciada na FBAUP, tem um MA printmaking coisa e tal da University of London e neste momento é aluna do Mestrado de Design da FBAUP.
4- Como artista explora o conhecimento de si e dos outros através de representações de vivências e histórias.
5- Utiliza todos os meios, tecnologias e técnicas, do desenho, passando pela ilustração, fotografia, vídeo e mesmo o evento performativo, explorando as possibilidades de forma a materializar as suas ideias.
5- Nos eventos que organiza, o Festival Sincero e mais recentemente I Want Discipline, por exemplo, procura colaborações e ligações com outros artistas com quem partilha em palco afinidades do gosto pelo imprevisto, o momentâneo, o pouco estudado.
6- Procura assim um paralelo com a especialização técnica.
7- Esse apreço pelo que está à margem da norma está também presente noutros trabalhos, como é o caso do projecto Wanda onde usa blogs, instalação, vídeo e publicação de livros para apresentar fantasias sexuais do lado feminino.
8- Para tal contou com a colaboração de inúmeras anónimas.
9- Mas a colaboração com anónimos e com pessoas mais ou menos próximas da artista podem ser encontradas nas publicações da editora Braço de Ferro.
10- O seu trabalho nas suas diversas formas foi já apresentado em inúmeros eventos e galerias nacionais: Quadrado Azul, Oeiras, coisa e tal, lista tudo o que interessa e internacionalmente: Luxemburgo, Bristol.

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João Gesta

Nasceu em Matosinhos, em 1953.
Escritor, programador cultural e membro do colectivo poético "Caixa Geral de Despojos". Organiza, desde Janeiro de 2002, o ciclo poético "Quintas de Leitura" do Teatro do Campo Alegre do Porto.
Vai, em breve, aderir à Literatura, ao Brad Pitt e ao Dolviran.
Escreveu três livros de ficção e um de fricção, o melhor. Já traz outro no ventre.
Continua desesperadamente à espera da Liberdade livre.

Culpas no cartório:
Embolia, Edicións Positivas (Espanha), 1993.
Dança Com Lobbies, Felício & Cabral – Publicações, Lda., 1995.
O Céu A Seu Dono, Edición Positivas (Espanha), 1997. Obra a três rins, de parceria com Daniel Maia e Pinto Rodrigues.
Dorme Cá Hoje, Objecto Cardíaco, 2006.
No ventre:
A Chamuça Ardente, com prefácio de Demis Roussos.

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Jorge Andrade

Nasceu em Moçambique, em 1973.
Tem o Curso de Formação de Actores e a Licenciatura Bietápica em Teatro (ramo de actores e encenadores), ambos da Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC). A sua formação passou ainda pelo Chapitô, por worshops ministrados por Zigmunt Molik (Comp. Grotowski), por Michael Margotta, bem como outros no âmbito do projecto Mugatxoan (Fundação de Serralves / Arteleku). Tem o curso de encenação de teatro ministrado pela companhia Third Angel (Programa Criatividade e Criação Artística da F. C. Gulbenkian), tendo o projecto philatélie sido seleccionado, em concurso, para produção no final do curso.
Foi membro do Teatro da Garagem entre 1993 e 2001, onde desempenhou funções de produtor, co-encenador e actor (em 20 espectáculos), e onde realizou com Jorge Listopad e Carlos J. Pessoa a dramatização do romance Hotel Savoy. Foi actor em vários espectáculos dos Artistas Unidos, integrou o grupo responsável pela escrita do texto de O Fim e foi assistente de encenação de Jorge Silva Melo. Desde 2006, participou em sete espectáculos da Comuna Teatro de Pesquisa. Para além de Carlos J. Pessoa, Jorge Silva Melo e João Mota, trabalhou ainda como actor com Jorge Listopad, Artur Ramos, Rogério de Carvalho, Álvaro Correia, Miguel Loureiro, Manuel Wiborg e Élvio Camacho, entre outros. Colaborou com o coreógrafo Miguel Pereira. Na televisão, participou como actor em diversos programas e campanhas publicitárias. Cumpriu estágio de licenciatura como docente da ESTC, tendo mais tarde sido docente da disciplina de Oficina Comum na mesma escola. Orientou vários ateliers de expressão dramática, designadamente para crianças.
Em 2002 fundou a mala voadora com José Capela, com quem partilha a direcção artística da companhia. Além de actor, dirige os espectáculos da companhia desde 2004. Foi distinguido pelo júri do Prémio Maria Madalena de Azeredo Perdigão 2004 com uma Menção Honrosa pela encenação de Os Justos. Em 2007 foi convidado para encenar um espectáculo para o fórum O Estado do Mundo, no âmbito do programa da comemoração dos 50 anos da F. C. Gulbenkian.

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Pedro Eiras
Nasceu no Porto, em 1975. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 1997. Doutorou-se em Literatura Portuguesa pela Universidade do Porto, em 2004. É professor de Literatura Portuguesa, igualmente, na Faculdade de Letras e Investigador do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa.
Publicou os seguintes livros:Antes dos Lagartos, teatro, in Dramaturgias Emergentes, vol. 1, Dramat-Cotovia, 2001.Anais de Pena Ventosa, ficção, Campo das Letras, 2001. Estiletes, contos, Fundação Ciência e Desenvolvimento, 2001.Passagem, teatro, in Cinco Peças Breves, Campo das Letras, 2002.Um Forte Cheiro a Maçã, teatro, Campo das Letras, 2003.Recitativo dos Livros do Deserto, teatro, Campo das Letras, 2004.As Sombras [Slow / A Última Praia antes do Farol / Uma Carta a Cassandra / O Pressentimento de Inverno / Cultura], teatro, Campo das Letras, 2005.Esquecer Fausto. A fragmentação do sujeito em Raul Brandão, Fernando Pessoa, Herberto Helder e Maria Gabriela Llansol, ensaio, Campo das Letras, 2005.A Moral do Vento. Ensaio sobre o corpo em Gonçalo M. Tavares, Caminho, 2006.A Lenta Volúpia de Cair. Ensaios sobre poesia, Quasi, 2007.
Os Três Desejos de Octávio C., ficção, Relógio d'Água, 2008.Arrastar Tinta, poesia, com pinturas de Nuno Barros, Deriva, 2008.
Com Esquecer Fausto, ganhou o Prémio P.E.N. Clube Português de Ensaio, em 2006.
Tem peças de teatro traduzidas, publicadas, encenadas em Portugal e diversos outros países: França, Grécia, Eslováquia, Roménia e Brasil.A peça Um Forte Cheiro a Maçã foi traduzida para francês, editada por Les Solitaires Intempestifs e difundida pela rádio France Culture. A peça Uma Carta a Cassandra foi traduzida para romeno, editada no volume Teatru Portughez Contemporan e lida em Brasov. No Brasil, em 2008, publicou ainda Um Forte Cheiro a Maçã seguido de Uma Carta a Cassandra.


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Valter Hugo Mãe

Nasceu em Angola, Saurimo, em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira, vive em Vila do Conde desde 1981. Licenciado em Direito, pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Escreveu três romances: o apocalipse dos trabalhadores, Quidnovi, 2008; o remorso de baltazar serapião, Quidnovi, 2006, (Prémio José Saramago); o nosso reino, Temas & Debates, 2004.
A sua poesia está reunida no volume folclore íntimo, Edições Cosmorama, 2008.
Sobre a sua obra: A meta física do corpo, sobre a poesia de valter hugo mãe, seguido de uma antologia, de Rui Lage, Edições Cosmorama, 2006.
Director da nova revista Zdrada, para poesia traduzida, cujo primeiro número sai em meados de 2009.
Mais informações sobre o autor: http://www.valterhugomae.com/ .

"Em Louvor dos Cafés do Porto", Por Germano Silva *

Há uma história que está por fazer – a dos cafés do Porto. Não a história cronológica desde quando apareceram até ao seu desaparecimento, mas a história do importante papel que esses espaços públicos, se assim se pode dizer, desempenharam como lugares do intercâmbio de ideias e centros de difusão de culturas, tanto modernas como antigas.
Nos idos de sessenta, essa verdadeira instituição portuense que foi o "café" desempenhou um papel de tal modo importante na história das artes, da literatura, do teatro e também da política, que não pode passar despercebida à análise mais ou menos crítica do cronista atento ao fenómeno cultural de uma cidade com a dimensão da do Porto.
Houve cafés nesta nossa cidade que rivalizaram com as academias e, pode mesmo dizer-se, até com a própria Universidade. Ao redor das suas mesas, com tampos de mármore ou de vidro, travaram-se autênticas batalhas de estética, deram-se a conhecer, em primeira mão, tratados, romances, poemas. Congeminaram-se formas de resistência à ditadura e deram-se a conhecer alguns planos de luta contra o poder instituído. A determinados movimentos ou correntes correspondiam determinados "cafés".
No desaparecido Rialto (ficava na Praça de D. João I) , por exemplo, reunia-se o grupos dos poetas que editavam as "Notícias do Bloqueio". Eram eles o Egito Gonçalves, o Daniel Filipe, o Papiniano Carlos, o Luís Veiga Leitão, o António Rebordão Navarro, às vezes o José Augusto Seabra e, sempre que os trabalhos jornalísticos o permitiam, o autor destas linhas, então um jovem candidato a jornalista. As "Notícias do Bloqueio", redigidas "à sombra" dos murais de Abel Salazar pintados nas paredes do café, eram, sobretudo, cadernos de poesia mas eram também e, fundamentalmente, trincheiras de combate político e tribuna de difusão de novas ideias. "Noticias do Bloqueio" é o título de um poema do Egito. Recordo-me que foi o Daniel Filipe quem sugeriu que fosse o título desse poema a servir de cabeçalho aos cadernos. A colecção completa destes cadernos é hoje raríssima e, por isso, difícil de encontrar. A sua reedição seria como que o "pontapé de saída" para a tal história dos nossos "cafés".
Outro "café" cultural era a Primus - um misto de café e confeitaria à volta de cujas mesas eram certos, a determinadas horas do dia, o arquitecto Américo Losa e a mulher, a escritora Ilse Losa; o prestigiado advogado e respeitado combatente pelas Liberdades, Artur Santos Silva; António Ramos de Almeida que orientava o Suplemento Cultural do "Jornal de Notícias", onde acolhia fraternalmente os jovens que então ensaiavam os primeiros voos artísticos, literários ou teatrais. Recordo que o Círculo de Cultura Teatral – Teatro Experimental do Porto (TEP) tinha acabado de ser fundado e funcionava, com pleno êxito, no seu teatrinho da antiga Travessa de Passos Manuel, hoje denominada Rua do Ateneu Comercial do Porto. O grande mestre do Teatro que foi o António Pedro, sempre que os seus afazeres de director do TEP lhe davam alguma folga, bem como os actores que constituíam a Companhia do Teatro, eram também certos na Primus. "Primus inter pares", assim se lhe referiu Daniel Filipe numa das belissímas crónicas que diariamente publicava no "Diário Ilustrado". Escreveu: "Há no Porto um café onde se pensa. Há no Porto um café onde se escreve. Há no Porto um café onde se discute..."
E o "Majestic", hoje uma instituição da cidade? O que esse "café" representou e representa no panorama cultural do Porto! Houve um famoso grupo de artistas que o elegeu como praça forte para as suas guerras contra o "statu quo", que o mesmo é dizer contra o imobilismo e a inércia reinantes. Foram eles o José Rodrigues, o Armando Alves, o Ângelo de Sousa e o Jorge Pinheiro que passaram à história artística do Porto com a designação de "Os Quatro Vintes". Ainda muito recentemente, num agradável convívio com três dos "Quatro Vintes" (o Zé Rodrigues, o Armando e o Ângelo) se evocou, com alguma emoção, o tratamento afectuoso de que estes artistas eram alvo por parte dos donos do "Majestic". Não há dúvida que para muitos deles, o "café", além de ser a sua Academia, era também uma espécie de lar onde podiam aquecer-se e alimentar-se, graças, muitas vezes, à generosidade de nobres gerentes hoje infelizmente esquecidos.
Outro café, inexplicável e incompreensivelmente desaparecido, mas não esquecido, e que merece ser referido aqui, pois exerceu também uma grande influência no pensamento cultural e político do século XX, foi "A Brasileira". Era frequentado, indiferentemente, por homens da esquerda e da direita. Com esta singularidade: os de esquerda sentavam-se à direita e os de direita ocupavam as mesas do lado esquerdo.

* Escritor, jornalista e editor da revista "Visão"
Texto originalmente publicado na revista "Porto de Encontro", Julho de 2001.

O Porto dos Cafés

Dizem que ali já não se pode
Que o namoro acabou das mãos dadas à voz
Que na língua ficou o sabor à palavra e do verso a sobra de açúcar
Servem-no alto comprido e curto
De galão a pingo
De saco ou máquina
Mais do que isso são as caras que se colam aos espelhos da fala e do dito
Da disputa no discurso e na criação de novas glórias de amanhã
São as mãos que se estendem da caneta ao papel e à leitura do jornal que se empresta à mesa do lado
E o bom dia cumprimentado de quem ali mora numa bandeja institucional

Do Porto dos cafés, a memória deles resiste no vazio de alguns
Cadeiras ambulantes que jogam à séria o seu lugar com as mesas em que se sentam
Cartas de pátria e de independência visual em pontos negros de dominó

Dizem que ali não se pode
E tudo se faz num encontro de primeira vez e no desconhecimento de alguém que nos passa
Um saber de parceiro para uma estadia inteira do minuto à entrada ao pé de calcar a saída

Há quem não o tome por ficar acordado
Há quem o beba para que na vida não adormeça
E no elementar do moer o grão, à castanha borra que resta num fundo de chávena
Persistem existências reais de planos de acto e ataque
Construções de linhas combinatórias a favor dum regime que se aposta e encontra
No resíduo das massas manifestas e reuniões de vértice político e cultural

O que é mais do que isso senão motivo dele ser a sala, o escritório, a cozinha e quase o quarto onde se busca o sono de revista
Abre-se o primeiro livro escolhido, apreciam-se as frescas páginas de papel
O que a leitura ali nos aguarda
O que o outro mudo terá para partilhar sobre o silêncio

O movimento em rodopio
Serve de escala e arena de conferência
Bordando redes de peixes com ideias submergindo num mesmo aquário
Vindo à tona da parte e da acção realizável nas vezes sucessivas em que a porta se abre
E o contentamento se rasga não num sobreiro de esperar mas numa extensão de possíveis

As mesas que se arrastam e juntam
São as pessoas que as preenchem e dali dão e tiram um sentido de voltar

Do Porto dos cafés há uma lista de expressões
Que não aparecem para consultaQue nos parecem como que um ritmo íntimo do corpo cidade

A Cidade dos Cafés

A cidade dos cafés e das ruas com nomes. Este foi o sonho da cidade Europeia, o desejo da cidade iluminada, a cidade moderna. Hoje, eco da cidade das luzes. O lugar plural de discussão e o lugar discutido entre as boas e as más novas ou as novas de sempre. Sentar e pedir por favor.
O encontro colectivo e individual, lugar do singular e da observação. Estar ali e não noutro lugar. Ir ali como estar em casa e não a outro sítio. Ir ali todos ou quase todos os dias como uma rotina de lavar dentes, tomar banho, comer ou respirar. Inventar a intimidade do atelier, inventar o próprio atelier.
A dimensão de habitar o espaço, a procura e a troca. Trocar ideias, duas de letra, dinheiro para tabaco. Transportar o intransponível e não ensinável do banco da escola à cadeira e mesa do café. O sítio onde se encontra o estar, ser e olhar, um festim de verbo, onde o consumo é o dos dias – pensar e fazer tempo como mais um dos pequenos vícios. Ali, onde se abre o novo livro ou se continua a ler o mesmo até decidir escrever um que valha a pena ou que simplesmente ainda não esteja escrito, onde se ficam horas sem ver o relógio passar, onde se combinam apontamentos e sarrabiscos com comuns ou onde surgem novas pessoas para partilha. Pagar o almoço com versos, o café com cheirinho.
A pequena trama que possibilita e sustenta a procura do acontecer: gente, momentos e coisas que duram um segundo ou anos, uma longevidade com corpo e acção. Uma renda onde os afectos são trocados e os projectos são discutidos, difundidos, falados, de certo modo conspirados e pensados de raíz.
O café é re(s)pública e democracia, no limiar ambivalente do anárquico, nesse passeio que se faz dele para outros lugares sem dali sair.
Este projecto também nasceu num café à força de meia de leite, torrada bijú e cimbalino, galão e prego em pão. Aí foi desejo e entusiasmo, aí quis ser acontecimento e partilha.