Dizem que ali já não se pode
Que o namoro acabou das mãos dadas à voz
Que na língua ficou o sabor à palavra e do verso a sobra de açúcar
Servem-no alto comprido e curto
De galão a pingo
De saco ou máquina
Mais do que isso são as caras que se colam aos espelhos da fala e do dito
Da disputa no discurso e na criação de novas glórias de amanhã
São as mãos que se estendem da caneta ao papel e à leitura do jornal que se empresta à mesa do lado
E o bom dia cumprimentado de quem ali mora numa bandeja institucional
Do Porto dos cafés, a memória deles resiste no vazio de alguns
Cadeiras ambulantes que jogam à séria o seu lugar com as mesas em que se sentam
Cartas de pátria e de independência visual em pontos negros de dominó
Dizem que ali não se pode
E tudo se faz num encontro de primeira vez e no desconhecimento de alguém que nos passa
Um saber de parceiro para uma estadia inteira do minuto à entrada ao pé de calcar a saída
Há quem não o tome por ficar acordado
Há quem o beba para que na vida não adormeça
E no elementar do moer o grão, à castanha borra que resta num fundo de chávena
Persistem existências reais de planos de acto e ataque
Construções de linhas combinatórias a favor dum regime que se aposta e encontra
No resíduo das massas manifestas e reuniões de vértice político e cultural
O que é mais do que isso senão motivo dele ser a sala, o escritório, a cozinha e quase o quarto onde se busca o sono de revista
Abre-se o primeiro livro escolhido, apreciam-se as frescas páginas de papel
O que a leitura ali nos aguarda
O que o outro mudo terá para partilhar sobre o silêncio
O movimento em rodopio
Serve de escala e arena de conferência
Bordando redes de peixes com ideias submergindo num mesmo aquário
Vindo à tona da parte e da acção realizável nas vezes sucessivas em que a porta se abre
E o contentamento se rasga não num sobreiro de esperar mas numa extensão de possíveis
As mesas que se arrastam e juntam
São as pessoas que as preenchem e dali dão e tiram um sentido de voltar
Do Porto dos cafés há uma lista de expressões
Que não aparecem para consultaQue nos parecem como que um ritmo íntimo do corpo cidade
segunda-feira, 30 de março de 2009
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